domingo, 11 de janeiro de 2015

as matas no olhar

Foto: Nadiella Monteiro


As matas no olhar
ou um olhar matador?
Um olhar que captura tudo que é belo
mas que deixamos passar
um olhar mágico
um olhar atento
poético
transformador
transgressor
e sempre ético
às vezes étnico
(às vezes?)
Encanto-me com o revelado
tão escondido e explicito
tão exposto e não visualizado
- Essa menina é mandingueira,
enfeitiça a gente pelo olhar
e pelo jeito de olhar
- É moça encantada que varre a poeira dos olhos da gente 
- É ser encantado e encantador
As matas no olhar não mentem,
há encantamento em quem as revelou.

Pará de Minas, 11 de janeiro de 2015

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Gatos e sombras

Foto: Nadiella Monteiro

Olha os olhos serenos da gata
e os olhos assustados do gato
que mistérios escondem

que anseios revelam
Riobaldo e Diadorim
pelos sertões e afins
desafiando o diabo
que brinca com a alma dos homens no meio da praça
destilando com graça carinho e afeto
de peito e olhos bem abertos
Diadorim se esconde por tras do ato
seja homem, mulher ou gato
a intensidade de quem se joga por inteiro
Os olhos da gata se revelam
esperança para além de toda sombra

Santa Rosa, Perdões, 01/04/2014

De Dom Quixote, tramas e doces

Foto Nadiella Monteiro

Desce um fio invisível
que sustenta intrincado novelo
Tece, a vida, uma estrela de mil pontas
bela e multicolorida
ela se sustenta no ar
mas queima dentro do peito
respeita todas as diversidades
entende rebeldias,
mas não aceita preconceitos
Uma mulher encantada
e que nunca foi uma das Parcas,
zela pelo fio invisível que sustenta o novelo
Olha o trabalho das Moiras,
Encanta-se com Cloto que trabalha até a Nona lua,
Admira o trabalho de Láquesis que começa na lua Décima
Mas meticulosa segura a mão de Átropos
Para que a tesoura precocemente não fira o fio
Guardo dentro do peito uma estrela de mil pontas
Entre as paginas amareladas do livro do meu estradar
Tanto caminho e tanto sol
Tanta trilha e tanto canto
Tanto por fazer e já não aguentar
A estrela já não se sustenta
Quer sair e ser alta, brilhar
Mas o peito oprimido e pesado 
Quer se render à sombra
Quer lamber feridas
Quer se fechar
A estrela multicolorida quer ganhar espaço
E o rio Capibaribe nesse ponto não dá Val
A vida Severina quer se render
Para ver se, como Macabéa, encontra sua hora de estrela
Láquesis vai perdendo o interesse pela trama
E Átropos, cada vez mais ansiosa, quer o fio cortar
Com uma palavra encanta,
Com gesto singelo
Com uma imagem figurada
Dulcinéia me abarca
Envolve
Abraça
Desvia a tesoura de Átropos
Instiga Láquesis a seguir
E faz a Roda da Fortuna, por mais um tempo, voltar a girar

Santa Rosa, Pará de Minas, 05 de abril de 2014.



pra você, Santa Rosa
O dom de Quixote é criar, 

Do desterro e do deserto, a vida. 

Ainda que também crie monstros de moinhos, 
Cria beleza onde não há.

Então, que sua espada roube os fios e escolha a trama:
É doce sua Dulcinéia
E tem retorno o corte de Átropos.

Gira a roda e a água cresce em madeira, que nutre o fogo,
Que vira terra, que produz o metal, que gesta e pare a água,
Que faz, da décima lua até agora, a roda da sorte girar.
E girar.
E girar.

A vida Severina é dura e seca,
Mas alimenta-se dela mesma:
Vida, dura, seca.
E permanece a caminhar.

Nadiella, BH,  05 de abril de 2014


Não vejo o fio
Nem a trama
Vejo cores
Arco íris de bala retorcido
Lembranças de infância
Onde foi que as esquecemos
Ou as guardamos
Quando escurecemos aquele primeiro olhar
Onde tudo é cor e vida
Onde se esconde aquela sensação
De plena felicidade
Onde repousa o ano novo
Sem data
Acho que se ouvirmos baixinho
E procurarmos no espelho
Sentiremos o gosto de doce


Ana, BH, 06 de abril de 2014



terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dia de casamento

Foto Ana Paiva

Noivas me contam segredos
Ando celebrando o amor entre as panelas
De receitas antigas, de terras estrangeiras e da cozinha de vó
De misturas de agora
A castanha do Brasil com as frutas de outras paragens
O perfume da baunilha
O chocolate derretido lentamente
O forno quente e a chuva pingando na janela
Bolo vermelho de calda
Finjo que sou bruxa
Com uma torcida enorme pela felicidade 


Ana, BH, 29 07 14



Dos Bolos da Ana,
A oferta de desejo por um pedaço feliz,
Aqui, ali
Com recheio de doce leite,
Namoro gostoso, bem-casado
E as flores de Amor Perfeito do meu jardim.

Nadiella, 29 07 14





O grande encontro

Pará de Minas - foto Nadiella Monteiro

Ver o bolo
do "Making of"

ao degustar
Deixar o vermelho das frutas
ganhar o paladar
Fazer alegre simpósio
com bons convivas
Conviver
Mesa fraterna
bons amigos com histórias
seus caminhos e descaminhos
encontros e desencontros
Soltando os sentidos
criar projetos
projetar sonhos
Gestar
conjugar imagens
palavras e paladar
Ganhar asas
Sentir-se leve
Levitar
Bolo desconstruído
baunilha
limão siciliano
frutas vermelhas
Calor e emoção
Reforçando laços
Criando novas histórias
Santa Rosa, Pará de Minas, 26/04/2014
Pará de Minas - Foto Nadiella Monteiro

Pará de Minas- foto Ana Paiva